CARACAS — A oposição criticou a decisão do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de retirar de circulação a cédula de maior valor (100 bolívares) em até 72 horas, sob justificativa de combater o contrabando de notas falsas na fronteira com a Colômbia e a escassez de alimentos. Críticos reagiram rapidamente ao anúncio de Maduro, dizendo que o tempo estipulado não é suficiente para a operação no país, cuja economia enfrenta uma grave crise e uma das mais altas inflações do mundo.
“No uso das minhas faculdades constitucionais e através desse decreto de emergência econômica, decidi tirar de circulação os bilhetes de 100 bolívares nas próximas 72 horas”, informou o presidente, em seu programa de televisão “Contato com Maduro”.
Maduro explicou que decidiu adotar a medida depois que as autoridades venezuelanas concluíram uma investigação que descobriu 300 milhões de bolívares "represados em Colômbia e Brasil". Segundo ele, as notas de 100 estariam “em poder de máfias internacionais na Colômbia”.
Maduro afirmou que o governo investiga o caso desde 2014 e que ocorre "a partir da Colômbia uma extração maciça de notas venezuelana, através de Cucuta e Maicao". Maduro pediu que a Justiça condene com penas de 12 a 18 anos quem tenha "jogado com a moeda nacional".
A nota de 100 bolívares equivale a 2 centavos de dólar americano (6 centavos de real) e é a mais utilizada no país economicamente devastado. Dados do banco central mostram que havia mais de seis bilhões de cédulas como essa em circulação em novembro, o que representa cerca de 48% de todas as notas e moedas em uso.
A medida foi condenada pelo líder da oposição Henrique Capriles, que criticou a incapacidade do governo:
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“Quando a incapacidade governa! Quem pensaria em fazer algo assim em dezembro e com as dificuldades que há? Maduro e sua cúpula!”, disse no Twitter.
A nota será retirada de circulação na quarta-feira e os venezuelanos terão 10 dias para trocá-la no banco central.
Em meio à grave crise econômica e aos altos índices de inflação, a medida vem dias antes de começar a circular no país novas cédulas e moedas com um valor que multiplica em até 200 a nota mais cara hoje.
O governo espera que isso aconteça paulatinamente a partir de quinta-feira, com novas moedas de 50 e de 100 e bilhetes de 500 bolívares. Mais adiante, serão introduzidas notas de mil, dois mil, cinco mil, dez mil e 20 mil.
Atualmente, existem na Venezuela notas de 2, 5, 10, 20, 50 e 100 bolívares. A nota de 100 permite comprar apenas uma bala. Para comprar um hambúrguer, por exemplo, é preciso 50 notas dessas.
Venezuelanos costumam esperar em torno de uma hora em filas para retirar dinheiro em bancos e caixas eletrônicos.
Apesar das críticas, o especialista Luis Vicente León, diretor do Instituto Datanálisis, diz que não há motivo para pânico.
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"Não há razão para criar pânico pela troca de notas por moedas de 100. O anúncio é ruidoso, mas a execução não tem que ser", afirmou no Twitter.
Fonte: Globo